De acordo com dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil conta com cerca de 30 milhões de animais domésticos abandonados, sendo que 20 milhões deles são cachorros. Existem diferentes questões socioeconômicas envolvidas, mas o problema é real.
Uma das maneiras de diminuir a população canina brasileira é por meio da castração. Essa iniciativa impede que animais procriem, o que reduz diretamente a taxa de abandono. Por meio da união de esforços públicos e privados, o serviço gratuito tem se tornado uma realidade e muitas pessoas fazem o curso de técnicas de castração para realizar tal procedimento.
A questão do abandono e da procriação animal rende discussões nos mais variados campos. Nesse texto, o foco serão os desdobramentos veterinários, mais especificamente aqueles relacionados às principais técnicas de orquiectomia em cães.
Embora possa parecer o contrário, é importante começar dizendo que a cirurgia de orquiectomia não é sinônimo de castração. Os dois termos estão relacionados e o primeiro é uma (das) forma(s) de obter o segundo, mas existem distinções a serem apontadas.
A orquiectomia consiste no ato médico de remover cirurgicamente os testículos. Esse procedimento não é exclusivo dos animais, sendo realizado também em humanos, mas com finalidades médicas diferentes.
No caso dos animais, a orquiectomia pode ser realizada por razões similares aos humanos (como no caso da existência de um câncer de próstata), mas também é uma alternativa para a castração. Em cães, ela é o tipo de esterilização mais comum e mais indicada.
A maioria dos médicos veterinários indicam que a orquiectomia canina seja feita logo após a aplicação de todas as vacinas, próximo dos seis meses de vida. Essa idade pode variar um pouco de acordo com o tamanho, raça e condição de saúde do animal.
Quais as indicações e benefícios da orquiectomia?
Como citado anteriormente, a orquiectomia canina pode ser indicada por veterinários em casos de problemas de saúde em que o procedimento irá beneficiar o animal. Motivos para que a cirurgia seja feita incluem fatores comportamentais e terapêuticos.
No caso de indicações por motivos comportamentais, a cirurgia contribui para diminuir a agressividade do animal, já que reduz estímulos hormonais. No caso das razões terapêuticas, aponta-se doenças relacionadas aos hormônios, como a hérnia perineal e prostatopatias.
Por fim, o motivo mais comum para a indicação da orquiectomia é a neutralização reprodutiva. É nesse ponto que a cirurgia e a castração se encontram, sendo o procedimento uma maneira simples e benéfica de impedir a procriação indesejada.
Embora a orquiectomia possua múltiplas indicações, elas não são mutuamente exclusivas. Um cão que passou pelo procedimento para ser neutralizado, irá se beneficiar das razões comportamentais e terapêuticas, o que torna a cirurgia benéfica por vários motivos.
Assim como outros procedimentos cirúrgicos, a orquiectomia existe em diferentes tipos (também referidos como “técnicas”). Nesse ponto, o procedimento em humanos e animais se difere bastante, sendo impossível traçar paralelos ou fazer comparações entre ambos.
As duas principais técnicas de orquiectomia em cães usadas na medicina veterinária são chamadas de: fechada e aberta. Elas existem por motivos distintos, primariamente relacionados com o peso do animal. Em todo caso, cabe ao profissional fazer a melhor escolha.
Enquanto a orquiectomia fechada é recomendada para cães e gatos com peso inferior a 20kg, a aberta é indicada para aqueles que pesem mais. Isso torna a primeira técnica mais frequente, embora outros fatores possam influenciar na decisão médica.
As diferenças entre os dois tipos de orquiectomias vão além das indicações, estando presentes nas técnicas utilizadas durante o procedimento. Nos dois tipos existe a remoção dos testículos do cão, mas isso é feito por meio de abordagens médicas distintas.
Na orquiectomia fechada em cães não há abertura da túnica vaginal (o que dá origem ao seu nome), sendo que o contrário é verdade para a técnica aberta. Na segunda, faz-se isso antes de ligar os vasos e o ducto deferente. Existem prós e os contras em ambos os procedimentos.
A orquiectomia aberta costuma ser vista pela comunidade médica veterinária como mais segura, por apresentar menor risco de infecções e do desenvolvimento de uma hérnia. Por outro lado, a técnica aberta reduz as probabilidades de hemorragias e hematomas.
Embora o uso de cada uma das técnicas de orquiectomia em cães seja debatível e esteja a critério dos profissionais, é muito importante que estes considerem todos os fatores associados. Isso inclui o histórico médico do cachorro, questões comportamentais e terapêuticas e outras informações.
No fim das contas, não existe uma técnica “melhor” ou “pior”. São procedimentos diferentes, indicados para situações específicas e com consequências igualmente benéficas. Em ambos os casos, deve-se prezar pelos cuidados e a prática médica adequada.
O acompanhamento clínico pré e pós-cirúrgico é necessário em todos os tipos de orquiectomia. É imprescindível contar com a colaboração dos tutores para que os procedimentos ocorram da melhor forma possível, sempre pensando na saúde do animal.
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